If I were a boy.

Para ouvir ao som de (claro!)
Eu ajo feito homem.
Eu externo uma necessidade de controle, de pulso firme. Criei uma crença interna de que preciso disso pra ser alguém que é reconhecida e respeitada pelo sexo masculino.
“Preciso fazer o que eles fazem pra me admirarem.”
Preciso ser decidida, sem firulas; preciso beber tanto quanto eles, porque assim não vão ligar tanto pras minhas gordurinhas ou certa falta de sagacidade ou delicadeza; preciso dominar os assuntos masculinos: futebol, bebida, falar de sexo despudoradamente… preciso me destacar, preciso ser diferente das outras.
Das meninas fúteis, das que só pensam em homem, em viver pra um, das que fazem escândalo por uma barata que tá do outro lado da rua. Eu não tenho tempo pra isso. Eu vou perder a minha vida, a minha ânsia de engolir o mundo, nesse lugar que tenta me encaixar em situações que não me cabem, que nunca fizeram nem fazem sentido pra mim. Essas frugalidades.. Essas, que tanto critico, mas me vejo caindo nelas. De novo, e de novo. Num ciclo vicioso, os venenos me tomam os sentidos, me dão o nó na consciência e tudo o que eu pensei nos momentos de arrependimento e reflexão somem: eu quero mais. Quero experimentar mais, quero possuir qualquer coisa que vejo pela frente: homens.
Quero contato, passo tanto tempo só, porque não? Sexo: é gostoso, é fácil, é tranquilo, é indolor, não tem preocupações com sentimentalidades no dia seguinte.
Então eu parto pro ataque: escolho a ‘vítima’ (tem que me agradar fisicamente), me aproximo com um sorriso mais fácil ainda, lanço um papo qualquer – que a mente torpe pelo álcool decide escolher -, e disparo.
Opa, esse não quis.
Próximo!
Esse quer, e tá tão bêbado quanto eu. Mas esse eu não conheço, nunca vi, o contato físico e emocional não é o suficiente. Uns beijinhos e só.
– Cadê o carinha que não vale nada mas eu sei que me quer? Ah, ali!
O script segue. Esse vale tão pouco que nem ser educado comigo ele acha que precisa. Respeito, comigo, pra que? Foda-se. Meu amor próprio não cede.
Saio chorando pra única pessoa que me conhece no lugar, e acabo vendo um menino que sempre achei bonito, mas, igualmente, sempre esteve namorando. Reclamo que não tenho como voltar pra casa. Ele oferece a sua.  Me animo com a possibilidade de poder carregar o celular e chamar um táxi de lá, e mais ainda de poder aninhar a minha carência nos braços tatuados dele. De volta à outra crença: Ele é progressista, deve se importar com o meu prazer.
BUM.
Outra decepção pra minha coleção. Eu bêbada, ele sóbrio: eu me esforçando, ele pensando em si, 5 minutos e um sorriso amarelo: “já gozei hehe.”
Eu deito nua no colchão no chão, ele na rede. Tão vulnerável e triste, tão culpada por entregar o meu corpo, a minha disposição, pra alguém que fez tão pouco caso de quem eu era.. Me tratou, afinal, como qualquer uma. Assim como eu também o tratei, então não posso reclamar. Ou posso? Claro. É automático.
Vou embora, não sei se com mais raiva de mim ou dele.
Peraí! Dele, claro: um merda, podia ter evitado, sabendo que eu estava mal.
Por todo o fim de semana, a culpa me corrói: “você se expõe demais.” Tento afastá-la, digo que vou aprender, que dessa vez vai ser diferente, que eu vou mudar.
Mas a verdade é que nunca me ensinaram a ser diferente. Nunca aprendi a saber o que querer e esperar dos relacionamentos.. Nunca tive referências dos meus pais nesse sentido, sempre foi assunto proibido.
Adorava ouvir minhas primas contando os detalhes picantes dos relacionamentos delas, mas a parte do romance não me interessava: sempre muito confusos.. não fazia sentido: porquê tanto trabalho? Pra que tanto desgaste? A vida tem tanto mais pra ser!
O que aprendi nos livros foram uma série de clichês que tampouco me serviam de inspiração. Eu não entendia porque eu deveria ser “difícil” se eu também queria ficar com o cara. O que é se valorizar? É não aceitar ser tratada como VOCÊ interpreta como agressivo. PRA VOCÊ, e não o que um molde pré-determinado te diz.
Eu não aceito que me tratem feito nada. Feito algo descartável. Não aceito mesmo! Reclamo e ponho banca!
Tais quais os homens. A diferença é que eu não sou um. Eu fui criada numa lógica em que a moça é frágil, merece e tem de ser escolhida, e não escolher. Fui bombardeada com essas ideias por todos os lugares, o tempo todo. “Você não pode agir assim!” E quanto mais eles diziam que eu não podia, mais eu queria enfrentar e peitar o imposto. Não dar satisfação, ser dona da minha liberdade – tudo o que sempre busquei.
E nessas contradições eu me perco, finjo pra mim mesma que me protejo de um amor qualquer; de ser, mais uma vez, ferida e desvalorizada quando entrego tudo de mim. Porque sim, eu me apaixono, penso numa pessoa só, faço planos, quero ser presente, me faço presente.
É só assim que eu sei ser: inteira, entregue, confusa mas racional.
Parece que nunca é o bastante.
Alguém que me entenda e cuide de mim, apesar das aparências?
Tem me parecido que, por quem sou, é pedir muito.
Mas não quero ser pessimista: Continuo num exercício dia-a-dia de aparar as arestas, de encontrar o melhor de mim, de me dispor à dar o meu melhor pro mundo também.
De gente que não se dispõe à isso a vida já tá cheia.
 Essa é minha pequena contribuição pra sociedade: autenticidade.

Pequeno retrato de uma epopéia moderna

Para ouvir ao som de:

Queria poder dizer que não penso em você.

Nunca.

Queria poder bater no peito e dizer “Eu e QUEM? Não me lembro.” Que nem aquela música da Luka, sabe? “Já nem lembro teu nome, teu telefone, eu fiz questão de apagar…”

É quase uma verdade. Uma verdade que amarga num certo orgulho, realmente. Orgulho que eu sempre acreditei que não tinha…

Na maior parte do tempo, meu pensamento se volta para o que tenho à fazer, à realizar, aprender, experimentar.

Quem vou conhecer amanhã, dentre as 6 bilhões de pessoas no mundo?

Queria poder programar meu pensamento 100% na possibilidade do novo.

Mas o que quero não se materializa quando eu vejo alguém que parece você, anda como você, sorri como você.

Mas não é você.

Me dá suporte, mas não tanto quanto você. Não entende tão bem o que penso e quero tanto quanto você. Você, que me enxerga em milhares de versões diferentes, mas capta minha essência mesmo assim.

E ficava, porque eu era o mesmo pra você.

Porque eu tava lá, quando tudo mais parecia maluco. Era teu porto seguro, teu pontal. Um farol. Pra segurar a tua mão, te abraçar apertado e dizer no teu ouvido: “Tá tudo bem. Vai ficar tudo bem.”

E eu mais uma vez descubro que eu amo, sim. Lembro que você veio, abalando todas as convenções, tudo o que eu pensava que sabia.. e me mostrou que eu podia amar e ser amada.

Que é amor, afinal de contas.

Mas, então, afinal, além disso.. o que fazer? Não preciso mais pensar pra saber: Não adianta brigar com o tempo, com o passado, com o destino ou o que quer que seja.

Tal qual uma epopéia grega, ainda esperamos pelo desfecho – nós, filhos de Ares, estamos de mãos atadas.

Agora quem manda é Chronos. Só nos resta deixar fluir.