Eu | Você.

Acho que a gente vai acabar.

Blau!

Saca? E não vai ser aquele finzinho, mais ou menos, meio morno, que a gente às vezes vê na tevê. Vai ser fim decisivo, enormes hiatos, inteiros, como de um filme ruim pra sua continuação. Novela mexicana é pouco.
Quer dizer, a gente entende tudo isso. Somos seres moralmente ~avançados~~, sabemos que isso acontece mesmo, e tá tudo bem.
Mas.. você queria? Porque você sabe que eu não. Porque eu sei que quando quero dar cabo de alguma coisa, não tem volta. Por mais que eu ame, o tamanho da parede emocional que construo é inversamente proporcional ao fundo do poço que eu vou por amor à alguém. Paixão é pouco.
Estamos (olha só!) crescendo. Cada dia é um novo passo, uma nova conquista nessa fase decisiva da vida. E já faz algum tempo que estamos sempre lá, cara a cara, ombro a ombro, nas decisões, choros, alegrias e tropeços um do outro. Mais que namorados, muitas vezes. Gargalhadas histéricas, intimidade intensa, conquistada na primeira olhada, por mais que pareça, aos outros, que tenha sido na porrada (talvez, também).
Talvez, pensando bem, a resistência seja por querer manter o conforto. A verdade é que já não me sinto à vontade, por mais que eu queira. A casa não é mais minha, os risos cessaram, a intimidade secou. Talvez, pelas loucuras do tempo, pelo passar das horas, pela falta da rotina – que, te afirmo: quem diria?, poderia nos salvar do precipício. 

Ritual

Para ler ao som de 
Você
me
inebria
os sentidos.
Por vários momentos ao longo do dia perco minha mente ao entrar em contato com a tua imagem em sonhos, que de tão lúcidos me fazem questionar a sensatez.
Me sinto fraca.
Será que é porque me dou tanto – e me perco em outros tantos?
Esperava que, com você, isso passasse. Que dessa vez eu conseguisse me manter no eixo pelo menos em 3/4 das horas… Que seria esse um daqueles relacionamentos saudáveis, que são bonitos tanto pra quem tá dentro quanto pra quem tá fora. Mais de adulto, menos de moleque, sabe?  Finalmente passando para a próxima etapa! Que você me faria mais bem que mal, que seria um amor gostoso, fácil, que eu não teria que me podar com você: pensar no que vou falar, nem passar pelo mesmo esquema de sempre. O velho ritual que já estou acostumada, mas não gosto nada nada.
Afinal, sou eu a culpada? Já que a história se repete… Eu, permissiva à ponto de perder a cabeça em qualquer paixão com que topo por aí?
Penso tanto e sempre chego ao mesmo ponto: é essa voracidade com a vida, com as descobertas, com as pessoas.
Não sei me encontrar senão em tesão, paixões, emoções. Pode rir, é que eu sou meio bruxa mesmo.
Quero contato, conexão com o oculto, as energias faiscantes desses choques de almas.
E broxo quando encaro a morosidade da gente. Como se vive nesse quase?
Como você, depois de tantos fluidos & promessas trocados, se abstém?
Não faz isso. A gente aprendeu junto que a vida só acontece pra quem se dá.
Tô te esperando. Nesse tempo, me reinvento a cada minuto, me renovo a cada pensamento, a cada gota de água do chuveiro que recai sobre o meu corpo – aquele mesmo que foi seu há dez minutos – pra que você não queira ir de vez quando a minha loucura te atingir em cheio.
Me espera?
Se não quiser, não se engane: eu não vou entender. É que pra mim, não serve. Sei que deve estar acostumado com aquelas princesinhas de torre de papel, que desmoronam por dentro mas permanecem impassíveis por fora, e eu não vou fingir que sou uma dessas só pra você não se assustar. Eu vou é esmorecer por dias, te xingar por todos os nomes que sei, e, finalmente, te ligar até você atender só pra dizer: Você quem perdeu.
E não vou precisar pronunciar nenhuma sílaba mais pra te convencer. Você tem plena consciência disso.
Permitir que nossos desejos, tão latentes um do outro, se resumam a qualquer coisa que não a um amor arrebatador só vai atestar que você é mais um pra soma de todos os caras que passaram por aqui: fraco, submetido, covarde, desonesto.
Toda energia sendo desperdiçada.
What a pity.

If I were a boy.

Para ouvir ao som de (claro!)
Eu ajo feito homem.
Eu externo uma necessidade de controle, de pulso firme. Criei uma crença interna de que preciso disso pra ser alguém que é reconhecida e respeitada pelo sexo masculino.
“Preciso fazer o que eles fazem pra me admirarem.”
Preciso ser decidida, sem firulas; preciso beber tanto quanto eles, porque assim não vão ligar tanto pras minhas gordurinhas ou certa falta de sagacidade ou delicadeza; preciso dominar os assuntos masculinos: futebol, bebida, falar de sexo despudoradamente… preciso me destacar, preciso ser diferente das outras.
Das meninas fúteis, das que só pensam em homem, em viver pra um, das que fazem escândalo por uma barata que tá do outro lado da rua. Eu não tenho tempo pra isso. Eu vou perder a minha vida, a minha ânsia de engolir o mundo, nesse lugar que tenta me encaixar em situações que não me cabem, que nunca fizeram nem fazem sentido pra mim. Essas frugalidades.. Essas, que tanto critico, mas me vejo caindo nelas. De novo, e de novo. Num ciclo vicioso, os venenos me tomam os sentidos, me dão o nó na consciência e tudo o que eu pensei nos momentos de arrependimento e reflexão somem: eu quero mais. Quero experimentar mais, quero possuir qualquer coisa que vejo pela frente: homens.
Quero contato, passo tanto tempo só, porque não? Sexo: é gostoso, é fácil, é tranquilo, é indolor, não tem preocupações com sentimentalidades no dia seguinte.
Então eu parto pro ataque: escolho a ‘vítima’ (tem que me agradar fisicamente), me aproximo com um sorriso mais fácil ainda, lanço um papo qualquer – que a mente torpe pelo álcool decide escolher -, e disparo.
Opa, esse não quis.
Próximo!
Esse quer, e tá tão bêbado quanto eu. Mas esse eu não conheço, nunca vi, o contato físico e emocional não é o suficiente. Uns beijinhos e só.
– Cadê o carinha que não vale nada mas eu sei que me quer? Ah, ali!
O script segue. Esse vale tão pouco que nem ser educado comigo ele acha que precisa. Respeito, comigo, pra que? Foda-se. Meu amor próprio não cede.
Saio chorando pra única pessoa que me conhece no lugar, e acabo vendo um menino que sempre achei bonito, mas, igualmente, sempre esteve namorando. Reclamo que não tenho como voltar pra casa. Ele oferece a sua.  Me animo com a possibilidade de poder carregar o celular e chamar um táxi de lá, e mais ainda de poder aninhar a minha carência nos braços tatuados dele. De volta à outra crença: Ele é progressista, deve se importar com o meu prazer.
BUM.
Outra decepção pra minha coleção. Eu bêbada, ele sóbrio: eu me esforçando, ele pensando em si, 5 minutos e um sorriso amarelo: “já gozei hehe.”
Eu deito nua no colchão no chão, ele na rede. Tão vulnerável e triste, tão culpada por entregar o meu corpo, a minha disposição, pra alguém que fez tão pouco caso de quem eu era.. Me tratou, afinal, como qualquer uma. Assim como eu também o tratei, então não posso reclamar. Ou posso? Claro. É automático.
Vou embora, não sei se com mais raiva de mim ou dele.
Peraí! Dele, claro: um merda, podia ter evitado, sabendo que eu estava mal.
Por todo o fim de semana, a culpa me corrói: “você se expõe demais.” Tento afastá-la, digo que vou aprender, que dessa vez vai ser diferente, que eu vou mudar.
Mas a verdade é que nunca me ensinaram a ser diferente. Nunca aprendi a saber o que querer e esperar dos relacionamentos.. Nunca tive referências dos meus pais nesse sentido, sempre foi assunto proibido.
Adorava ouvir minhas primas contando os detalhes picantes dos relacionamentos delas, mas a parte do romance não me interessava: sempre muito confusos.. não fazia sentido: porquê tanto trabalho? Pra que tanto desgaste? A vida tem tanto mais pra ser!
O que aprendi nos livros foram uma série de clichês que tampouco me serviam de inspiração. Eu não entendia porque eu deveria ser “difícil” se eu também queria ficar com o cara. O que é se valorizar? É não aceitar ser tratada como VOCÊ interpreta como agressivo. PRA VOCÊ, e não o que um molde pré-determinado te diz.
Eu não aceito que me tratem feito nada. Feito algo descartável. Não aceito mesmo! Reclamo e ponho banca!
Tais quais os homens. A diferença é que eu não sou um. Eu fui criada numa lógica em que a moça é frágil, merece e tem de ser escolhida, e não escolher. Fui bombardeada com essas ideias por todos os lugares, o tempo todo. “Você não pode agir assim!” E quanto mais eles diziam que eu não podia, mais eu queria enfrentar e peitar o imposto. Não dar satisfação, ser dona da minha liberdade – tudo o que sempre busquei.
E nessas contradições eu me perco, finjo pra mim mesma que me protejo de um amor qualquer; de ser, mais uma vez, ferida e desvalorizada quando entrego tudo de mim. Porque sim, eu me apaixono, penso numa pessoa só, faço planos, quero ser presente, me faço presente.
É só assim que eu sei ser: inteira, entregue, confusa mas racional.
Parece que nunca é o bastante.
Alguém que me entenda e cuide de mim, apesar das aparências?
Tem me parecido que, por quem sou, é pedir muito.
Mas não quero ser pessimista: Continuo num exercício dia-a-dia de aparar as arestas, de encontrar o melhor de mim, de me dispor à dar o meu melhor pro mundo também.
De gente que não se dispõe à isso a vida já tá cheia.
 Essa é minha pequena contribuição pra sociedade: autenticidade.

Pequeno retrato de uma epopéia moderna

Para ouvir ao som de:

Queria poder dizer que não penso em você.

Nunca.

Queria poder bater no peito e dizer “Eu e QUEM? Não me lembro.” Que nem aquela música da Luka, sabe? “Já nem lembro teu nome, teu telefone, eu fiz questão de apagar…”

É quase uma verdade. Uma verdade que amarga num certo orgulho, realmente. Orgulho que eu sempre acreditei que não tinha…

Na maior parte do tempo, meu pensamento se volta para o que tenho à fazer, à realizar, aprender, experimentar.

Quem vou conhecer amanhã, dentre as 6 bilhões de pessoas no mundo?

Queria poder programar meu pensamento 100% na possibilidade do novo.

Mas o que quero não se materializa quando eu vejo alguém que parece você, anda como você, sorri como você.

Mas não é você.

Me dá suporte, mas não tanto quanto você. Não entende tão bem o que penso e quero tanto quanto você. Você, que me enxerga em milhares de versões diferentes, mas capta minha essência mesmo assim.

E ficava, porque eu era o mesmo pra você.

Porque eu tava lá, quando tudo mais parecia maluco. Era teu porto seguro, teu pontal. Um farol. Pra segurar a tua mão, te abraçar apertado e dizer no teu ouvido: “Tá tudo bem. Vai ficar tudo bem.”

E eu mais uma vez descubro que eu amo, sim. Lembro que você veio, abalando todas as convenções, tudo o que eu pensava que sabia.. e me mostrou que eu podia amar e ser amada.

Que é amor, afinal de contas.

Mas, então, afinal, além disso.. o que fazer? Não preciso mais pensar pra saber: Não adianta brigar com o tempo, com o passado, com o destino ou o que quer que seja.

Tal qual uma epopéia grega, ainda esperamos pelo desfecho – nós, filhos de Ares, estamos de mãos atadas.

Agora quem manda é Chronos. Só nos resta deixar fluir.

Um passado que não tem espaço no futuro.

Para ler ao som de 

If you respect me
Don’t protect me
You can tell me
I can handle it
Stop pretending, ‘cause we’re going down

If you let go
Then just let go
It’s disrespectful
How you’ve handled this
Never ending, kinda run around

I lied to my heart ‘cause I thought you felt it
You can’t light a fire, if the candle’s melted
No, you don’t have to love me
If you don’t wanna
Don’t act like I mean nothing
But if you’re gonna
Well, then you better

Unkiss me
Untouch me
Untake this heart
And I miss this
Just one thing
A brand new start

(…) I don’t need this

Não sei como lidar com tudo o que você e o nós representa pra mim. Não sei a hora de parar, perco-me na intensidade com a qual aprendi a viver a vida. Medito, reflito, questiono. Como agir? “Naturalidade”, você diz, mas eu não me adequo desse jeito. Acho que devo fazer com você o que eu aprendi naqueles livros: mulher poderosa “se valoriza”, não cobra, pula pra outra se o que recebe é pouco. Até concordo em partes com esse discurso, mas não é assim que me sinto. Claro, tenho amor-próprio de sobra e, quando me magoo, é sério. Mas sei também o que me faz pulsar, através desse potencial humano que nos cerca. É tão… ..certo, tantas vezes.. Mas continuará assim se eu continuar a agir como tenho vontade? Participar do seu trabalho, estar presente, mesmo quanto te conheço tão bem e sei que valoriza tanto o que não tem? Será que você acha que me tem? Ou você sente que me perde à cada deslize, assim como eu sinto? Pelo que diz, você também se lamenta por nossa relação estar fadada ao fracasso. E eu não devo, nem quero, cobrar nada.. Não quero ser sua mãe, longe disso. Mas eu consigo não controlar? Consigo deixar ir? Desapego.. Quando se trata de você? É esse o segredo? Existe algum? Existe algum lugar onde a gente fique bem? Na realidade, talvez? Você diz que não me deseja, mas pensa em mim de forma romântica. Como pode? Se sou tão única, o que te impede? Se o desejo já existiu… ele pode renascer? Eu quero que renasça por ego ou por amor à você? Ao traçarem nossa sinastria amorosa, os astros disseram que o nosso aprendizado era respeitar o espaço do outro… Será por isso? Será sempre assim? Vocês não gostam de serem submetidos à regras, à podas. Aonde é o equilíbrio disso tudo? E já estou eu aqui, de novo, pensando sem parar em toda essa história.


Já passamos por isso tantas vezes que acho que a solução só vai chegar se a gente se reinventar de novo. E, para isso, só outra vida. Sofrimento, aqui? Não tem lugar.

Aloha!

Gosto de ter vivido a vida que vivi, até hoje.

Sou grata pelos momentos, pelos riscos que corri, pelos beijos que roubei e que ganhei, pelas carícias trocadas por dois corações recém encontrados – que de tão felizes não sabem fazer outra coisa senão fazer o corpo todo sorrir; pelas pessoas que conheci, pelos sentimentos aflorados e intensificados pelo se expor – por estarmos ali, inteiros e presentes.

As frutas doces que provei, os olhares trocados em meio à multidão, os textos lidos e que inspiraram, mesmo que apenas por suspiros e desejos de estar também ali, naquela história, sentir tal arrepio correr na pele, quando a inconformidade dos dias já aparece.

Feliz pelas trocas que fiz, pelo que pude aprender com tutores diplomados como eu, muito mais pela vida do que pela universidade.

Gratidão ao amor, em todas as suas formas. Continuo a acreditar que é a chave para a plenitude.